O infarto agudo do miocárdio (IAM) representa a principal causa de morte no mundo. Muitos avanços foram realizados no rápido diagnóstico e tratamento dos pacientes com IAM e, felizmente, a mortalidade hospitalar reduziu bastante nos últimos anos1. Entretanto, a principal sequela dos sobreviventes ao IAM não tem recebido o mesmo nível de atenção em relação à sua prevenção e diagnóstico precoce. Neste texto, vamos comentar o que já temos de opções terapêuticas e quais as perspectivas futuras para controle da principal sequela pós-IAM que é a insuficiência cardíaca (IC).
Qual o risco de IC pós-IAM?
A IC pós-IAM pode ocorrer de forma precoce (< 72h) ou em um processo de remodelamento tardio (até meses pós-IAM). Cerca de 10% dos pacientes apresentam IC 30 dias pós-IAM enquanto, em 1 ano, 20-30% dos pacientes pós-IAM evoluem com IC.2
O que já temos de opções terapêuticas para IC pós-IAM?
Tratamento completo e precoce do IAM, particularmente aplicação da terapia de reperfusão bem-sucedida, são fundamentais para prevenção de IC pós-IAM. Além disso, estratégias de prevenção secundária com mudança do estilo de vida, reabilitação, uso de fármacos para prevenção de um novo IAM (dupla antiagregação, estatina de alta intensidade, etc) são medidas fundamentais. Finalmente, há medidas específicas que devem ser utilizadas em pacientes com disfunção ventricular ou alto risco de IC pós-IAM como beta-bloqueadores, IECA/BRA e antagonistas de mineralocorticoide.1
Perspectiva futura
Os inibidores de SGLT2 (sodium glucose co-transporter 2) são uma classe de medicamentos originalmente desenvolvidos para controle glicêmico, mas que se tornaram de grande importância na proteção cardiovascular, particularmente no tratamento da IC, independente da fração de ejeção (FE) ou da presença de DM tipo 2. Além do tratamento, os inibidores de SGLT2 também foram eficazes na prevenção de hospitalização por IC mesmo em pacientes sem histórico de IC prévia3. Tendo em vista este histórico, estes medicamentos vêm sendo testados em 2 grandes trials em andamento para controle da principal sequela pós-IAM que é a insuficiência cardíaca. Os estudos EMPACT-MI e DAPA-MI irão trazer respostas importantes para a nossa prática clínica. Enquanto aguardamos os resultados destes estudos maiores, um estudo de fase 2 chamado EMMY-trial mostrou achados animadores, como melhora mais acentuada no NT-proBNP e de parâmetros ecocardiográficos com o uso de empagliflozina em pacientes pós-IAM, sem preocupações de segurança. No caso do estudo EMMY, foram incluídos pacientes com IAM considerados importantes (com grande aumento de biomarcadores cardíacos).
Dessa forma, pode-se ver que há um foco especial no controle da IC pós-IAM e, além de estratégias consagradas, novos medicamentos podem ser incorporados no manejo destes pacientes. Tendo em vista que a doença coronária é a principal causa de IC5, a aplicação de estratégias de controle da IC pós-IAM representa uma ação fundamental para oferecermos um cuidado completo ao paciente não só na fase aguda do evento coronário, mas também no cuidado continuado pós-alta hospitalar.
Referências
- Bhatt DL, Lopes RD, Harrington RA. Diagnosis and Treatment of Acute Coronary Syndromes: A Review. JAMA. 2022 Feb 15;327(7):662-675.
- Jenča D, Melenovský V, Stehlik J, Staněk V, Kettner J, Kautzner J, Adámková V, Wohlfahrt P. Heart failure after myocardial infarction: incidence and predictors. ESC Heart Fail. 2021 Feb;8(1):222-237. doi: 10.1002/ehf2.13144.
- Zelniker TA, Wiviott SD, Raz I, Im K, Goodrich EL, Bonaca MP, Mosenzon O, Kato ET, Cahn A, Furtado RHM, Bhatt DL, Leiter LA, McGuire DK, Wilding JPH, Sabatine MS. SGLT2 inhibitors for primary and secondary prevention of cardiovascular and renal outcomes in type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis of cardiovascular outcome trials. Lancet. 2019; 393 (10166):31-39.
- von Lewinski D, Kolesnik E, Tripolt NJ, Pferschy PN, Benedikt M, Wallner M, Alber H, Berger R, Lichtenauer M, Saely CH, Moertl D, Auersperg P, Reiter C, Rieder T, Siller-Matula JM, Gager GM, Hasun M, Weidinger F, Pieber TR, Zechner PM, Herrmann M, Zirlik A, Holman RR, Oulhaj A, Sourij H. Empagliflozin in acute myocardial infarction: the EMMY trial. Eur Heart J. 2022 Nov 1;43(41):4421-4432. doi: 10.1093/eurheartj/ehac494.
- Albuquerque DC, de Barros e Silva PGM, et al. Main results of the first Brazilian Registry of Heart Failure (BREATHE). European Heart Journal. Volume 43, Issue Supplement_2, October 2022, ehac544.1078.
Escrito por Dr. Pedro Barros
Biografia
Master of Health Sciences in Clinical Research - Duke University Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo Médico pesquisador do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração e do Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica (BCRI) Diretor da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e membro do Conselho de Normatização das Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia Fellow of the American College of Physicians, do American College of Cardiology e da European Society of Cardiology Membro do comitê executivo do Global Heart Attack Treatment Initiative (GHATI) do American College of Cardiology Academic Chief Medical Officer do grupo Med.IQ