Omissão de radioterapia adjuvante em câncer de mama luminal A inicial após cirurgia conservadora

Med.IQ

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30 ago, 2024

Estudo prospectivo demonstra taxas aceitáveis de recidiva de cânceres de mama iniciais do subtipo luminal A A cirurgia conservadora é a escolha de cirurgiões e pacientes para tumores de mama iniciais, e, nesse contexto, a radioterapia adjuvante é frequentemente administrada para reduzir os riscos de recidiva tumoral local. No entanto, a radioterapia apresenta inconveniências, como o custo e a necessidade de sessões diárias, além de efeitos colaterais de curto e longo-prazo, que afetam a qualidade de vida das pacientes. Recentemente, a incidência de recidivas locais após cirurgia conservadora vem diminuindo consideravelmente devido a detecção precoce de tumores em estágios mais iniciais e a avanços nas técnicas cirúrgicas e no tratamento adjuvante sistêmico, colocando em questão a necessidade da radioterapia adjuvante em tumores de baixíssimo risco de recidiva. Fatores clinicopatológicos são pouco informativos quanto ao risco de recidiva no câncer de mama, mas subtipos moleculares são capazes de predizer prognóstico nessa doença. Dentre os quatro subtipos principais, o subtipo luminal A “símile” - definido clinicamente pela expressão de receptores de estrógeno e progesterona, ausência de expressão do receptor HER2 e índice de proliferação celular (Ki67) menor que 13,25% - apresenta o melhor prognóstico, e foi identificado anteriormente como um subtipo de baixíssimo risco de recidiva local após cirurgia conservadora. Nesse contexto, o estudo prospectivo, multicêntrico, de braço único LUMINA, cujos resultados foram publicados recentemente, buscou avaliar a possibilidade de omissão de radioterapia em cânceres de mama luminal A “símile” em estágio inicial. Para tal o estudo registrou, entre agosto de 2013 e julho de 2017, 740 pacientes com câncer de mama com mais de 55 anos de idade, provenientes de 26 centros canadenses, que passaram por cirurgia conservadora com pelo menos 1 mm de margem cirúrgica livre e apresentavam tumores de até 2 cm de diâmetro, sem comprometimento de linfonodos, positivas para receptor de estrógeno e progesterona (≥1% e >20%, respectivamente) e negativas para HER2. Após análise central para a expressão de Ki67 e confirmação do diagnóstico de câncer de mama luminal A, 500 pacientes foram incluídas e receberam tratamento adjuvante sistêmico com inibidores de aromatase ou tamoxifeno por pelo menos 5 anos, sem radioterapia. As pacientes foram acompanhadas semestralmente nos dois primeiros anos e anualmente a partir de então. O desfecho primário avaliado foi recidiva local em 5 anos, e o risco foi considerado aceitável se o limite superior do intervalo de confiança de 90% (IC90%, bicaudal) para a incidência cumulativa ficasse abaixo de 5%. Desfechos secundários incluíram câncer de mama contralateral, recidiva de qualquer natureza, sobrevida livre de doença e sobrevida global. Recidivas locais foram observadas em 10 pacientes em 5 anos após recrutamento, resultando em um risco cumulativo de 2.3% (IC90%: 1,3 – 3,8; IC95%: 1,2 – 4,1), considerado aceitável de acordo com os critérios pré-estabelecidos. Foram relatados 8 casos de câncer de mama contralateral (incidência cumulativa em 5 anos: 1,9%; IC90%: 1,1 – 3,2) e 12 recidivas totais (10 locais e 2 distantes, incidência cumulativa em 5 anos: 2,7%; IC90%: 1,6 – 4,1). Em relação à sobrevida livre de doença, foram registrados como primeiro evento 11 recidivas, 7 cânceres contralaterais, 23 segundos tumores primários e 6 mortes (total: 47 eventos), resultando em uma sobrevida livre de doença em 5 anos estimada em 89,9% (IC90%: 87,5 – 92,2). Por fim, foram registradas 13 mortes, das quais apenas 1 foi relacionada à doença, resultando em uma estimativa sobrevida global câncer específica em 5 anos de 97,2% (IC90%: 95,9 – 98,4). Assim, os resultados demonstram que a omissão de radioterapia adjuvante pode ser uma opção para pacientes com tumores luminal A “símile” em estágio inicial, considerados pacientes de baixíssimo risco de recidiva, com potencial de poupar esses pacientes dos efeitos indesejáveis que essa causaria. Referência: Whelan et al. Omitting Radiotherapy after Breast-Conserving Surgery in Luminal A Breast Cancer. The New England Journal of Medicine. 2023. Doi: https://doi.org/ 10.1056/NEJMoa2302344
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