Uma nova estratégia terapêutica para o Diabetes Mellitus tipo 2: Efeitos do duplo-agonismo na redução da hemoglobina glicada e do peso corporal

Plataforma Med.IQ

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11 nov, 2024

Dr. João Salles, CRM-SP 83123 - RQE 43764, Professor de Endocrinologia da FCMSCSP, Diretor do Departamento de Clínica Médica da Santa Casa de São Paulo, Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e Coordenador Científico de Endocrionologia da Med.IQ, comenta sobre os dados do estudo SURPASS-2, que avaliou a eficácia de dois medicamentos no controle da diabetes mellitus tipo 2.  
Indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 (DM2), apresentam desafios no controle glicêmico e na gestão do peso, condições que agravam o risco de complicações metabólicas. Atualmente, os agonistas do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1) compõem algumas opções de tratamento para esses pacientes devido à atividade insulinotrópica, como é o caso da semaglutida. No entanto, estudos recentes demonstram que os agonistas do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP), além de possuírem função insulinotrópica, possuem atividade glucagonotrópica independente de glicose, fazendo com que, não somente potencializem a liberação de insulina em condições hiperglicêmicas, mas também estimulem a secreção de glucagon em condições hipoglicêmicas e durante o jejum.¹  Sendo assim, uma molécula que combine o agonismo dos receptores GIP e GLP-1 pode apresentar um efeito maior no controle dos níveis de glicose e do peso corporal em indivíduos com DM2, quando comparado aos agonistas seletivos do GLP-1.² A tirzepatida é a única molécula dessa classe que possui efeito dual, atuando tanto nos receptores de GIP quanto nos de GLP-1.³   Neste vídeo, Dr. João Salles, apresenta os dados do SURPASS-2, um estudo de fase 3, randomizado, que incluiu 1879 indivíduos com DM2 e avaliou a eficácia da tirzepatida em relação à semaglutida no tratamento desses pacientes. Os critérios de inclusão do estudo foram DM2 descompensada, níveis de hemoglobina glicada (HbA1c) de até 10,5% e uso vigente de metformina em dose mínima de 1500 mg por dia. Os participantes foram randomizados em quatro grupos, para administração subcutânea semanal de tirzepatida (na dose de 5 mg, 10 mg ou 15 mg) ou semaglutida 1 mg, durante um período de 40 semanas. O aumento progressivo de dose foi realizado em todos os grupos, sendo a dose inicial de tirzepatida de 2,5 mg, com aumento de 2,5 mg a cada 4 semanas, até atingir a dose designada para cada grupo, enquanto a dose inicial de semaglutida foi de 0,25, com duplicação da dose a cada 4 semanas, até atingir 1 mg.²  O desfecho primário do estudo foi a alteração do nível de HbA1c e os principais desfechos secundários foram a mudança no peso corporal e o alcance das metas de HbA1c inferior a 7,0% e inferior a 5,7%. Ao final do tratamento, a tirzepatida demonstrou superioridade em todas as dosagens avaliadas, com redução de 2,01%, 2,24% e 2,30% da HbA1c, nas doses de 5 mg, 10 mg e 15 mg, respectivamente, em comparação com redução de 1,86% para semaglutida. A avaliação das reduções médias de peso corporal demonstrou diminuição de 7,6 kg, 9,3 kg e 11,2 kg, para as doses de tirzepatida de 5 mg, 10 mg e 15 mg, respectivamente, em comparação com diminuição de 5,7 kg com semaglutida. A análise dos participantes que alcançaram as metas de HbA1c definidas como desfecho secundário demonstrou superioridade para tirzepatida em todas as doses avaliadas, sendo que nos grupos de 5 mg, 10 mg e 15 mg de tirzepatida, 82%, 86% e 86% dos participantes, respectivamente, apresentaram níveis de HbA1c menores que 7,0%, em comparação à 79% no grupo da semaglutida. Adicionalmente, 27%, 40% e 46% dos participantes que receberam dosagens de 5 mg, 10 mg e 15 mg de tirzepatida, respectivamente, apresentaram níveis de HbA1c menores que 5,7%, em comparação à 19% para o grupo da semaglutida.²  Esses resultados demonstram que, para os parâmetros avaliados no estudo, a tirzepatida demonstrou superioridade em relação à semaglutida em todas as doses, sugerindo que a administração de tirzepatida é benéfica para a redução de HbA1c em pacientes com DM2 inicial e intermediária, reduzindo a necessidade de adicionar outras medicações para aqueles que já fazem uso de metformina. ²   

Escrito por Plataforma Med.IQ